Este corpo de flanela
onde o meu corpo meto,
foi ao tintureiro da cela
para o tingirem de preto.
O meu fato cinzento.
Dentro dele há tempestades,
uivo e nego, canto e berro.
Foi ao brunidor das grades
para o passarem a ferro.
O meu fato cinzento.
Sempre colado ao meu peito,
medo de morrer sozinho?
Fiz dele a cova do leito
em negro catre de pinho.
O meu fato cinzento.
Parece a minha pele verdadeira.
Ah! quando se abrirem as celas
hei-de fazê-lo bandeira
e pô-lo num mastro de estrelas.
Luís Veiga Leitão, Noite de Pedra, in Ciclo das Pedras
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