Não queiras pôr a nuvem numa caixa transparente
ensinar-lhe as leis quotidianas
com quanto amor domesticá-la
Ela não fala
essa linguagem
Não tem lei nem morada
Uma secreta voz constantemente a chama
Amá-la é conservá-la aí nessa paragem
de instável segurança E se quiseres guardá-la
na doce paz comum tão diferente
da paz inquieta e sempre outra em que cintila
já não é a nuvem que tu amas
e mal sujeita ao clima estranho que a mutila
desfaz-se em água e some-se na terra transformada
em lama
Mário Dionísio, Memória Dum Pintor Desconhecido