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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Fugas e evasões...

Malhoa, Os bêbedos

- Que fazes aí? - perguntou ao bêbado,
silenciosamente instalado diante de uma colecção
de garrafas vazias e uma colecção de garrafas cheias.
- Eu bebo - respondeu o bêbado, com ar lúgubre.
-Porque bebes? - perguntou o Principezinho.
- Para esquecer... esquecer que tenho
 vergonha - confessou o bêbado,
 baixando a cabeça...
 Saint.Exupéry
Em busca de outros «asteróides», evadiu-se o Principezinho, levado certamente por «um bando de pássaros selvagens que emigravam».
Às vezes fico a pensar que há um Principezinho dentro de mim... Também eu não gosto da constância.

Procuro evadir-me tantas vezes...
Evadir-me de mim mesmo, abandonando os compromissos assumidos, em busca de «outros asteróides», pois
o meu planeta familiar
o meu planeta escolar
o meu planeta de homem público
o meu planeta de pai de família
o meu planeta de mãe de família
está a tornar-se monótono e sem colorido.
E então a sociedade acena-me com os seus chamarizes luminosos e sedutores.

- Entra num bar e bebe!
Bebe para esquecer! 
Esquecer que ainda tens vergonha.
Que és honrado.
Que tens família...

- Estás cansado da vida.
Entra no embalo quente da música.
Vamos gozar!
Deixa de parte a tua vida séria!
Afinal, o que que os outros têm a ver com os teus compromissos?...

- Está-se mesmo a ver amigo!
Uma «puxada» facilita um pouco as coisas. E as tristezas da vida «evaporam-se»...
E o rapaz convence a rapariga de que «afinal, a gente precisa de ser livre e deixar de ser bitolado. A gente só faz amor para ver se existe adaptação sexual. De contrário, porquê casar?»...
E o empresário sai com a secretária para um programa no motel mais próximo.
E a esposa, cansada de tantas mentiras e esperas, procura também as compensações que as novelas fartamente lhe sugerem. Há muita facilidade nesse campo: as «filiais» e os «gaviões» não faltam...
E o mundo está cada vez mais doente.
Mais triste.
Mais vazio.

São fugas e evasões que não conduzem a nada, a não ser a uma profunda prostração.
Frustrações que muitas vezes levam a uma sempre mais ampla permissividade, gerando o círculo vicioso do esvaziamento dos que buscam
amor onde não existe amor,
felicidade onde existe alienação,
paz, onde apenas existe vazio.
E o essencial, o mais importante, o Único necessário,o indispensável para a realização humana,
quando e onde no-lo apontam
os meios de comunicação?
C. A. Schmitt