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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

«Eis-me...»


Eis-me.
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses 
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente.
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
 O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
 E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente

Sophia de Mello Breyner Andresen

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