Dois anos de seca
vividos
como só Deus sabe!
Vagueiam pela cidade
esqueléticas crianças.
Chegaram de fora
dos campos onde outrora
havia
a harmonia
de plantas exuberantes,
a promessa da fartura!
Pedem tostões pelas ruas
as suas
frágeis vozinhas
musicais.
Seus olhos tristes
cobertos
dessa expressão precoce de renúncia
namoram sacos abertos
do pirão tentador
que há nas lojas à venda...
As mulheres e os homens
também têm
a mesma tristeza infantil
no olhar pasmado...
Parecem bonecos macabros
e causam dó
os petizes de meses
com vida só
nos lábios infatigáveis
que chupam vazias tetas maternais,
cada vez mais
com mais sofreguidão...
Os seios secos das mães
amamentam ainda!
Jorge Barbosa, Ambiente
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