À beira da corrente
Se vem sentar quem sente
Subir do coração a onda de amargura.
A lua, no céu claro,
Não faz nenhum reparo,
E a mágoa que nos dói não mancha a noite pura...
Como entre si falando,
As águas vão passando,
Cantando, se é cantar o seu chorar a rir;
E a plácida elegia,
Tão música e poesia,
Só diz o que quiser ouvir quem vem ouvir...
[...]
À beira da corrente
Se vem sentar quem tente
Beber até ao fundo o cálix muito cheio.
Na noite clara e boa,
Nem o sofrer magoa,
Porque no fim é o Mais, - a dor é só no meio...
Se já não tens mais nada
Senão olhar, da estrada,
Aléns que julgarás que nunca atingirás,
Poeta ou desgraçado,
Vem! senta-te a meu lado:
Deixemo-nos ir até ao fundo desta paz...
José Régio
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