Sentava o seu Passado nos joelhos.
Tentava-o acordar. E os seus cabelos
Vinham prender-lhe os dedos. Pra contê-los
Espalhava-os a medo nos espelhos.
Às vezes ao penteá-los desprendia-os.
E anoitecia-os entre jóias caras.
Apertava-os nas mãos, por fim prendia-os
Em vez de fitas com serpentes raras.
Mordia lírios pra aromar a Alma.
Inquieto olhar. Um inclinar de palma
A sombra de seus olhos encobria.
Longos dedos, rebanhos sem pastores.
Então suas palavras eram cores
E arco-íris os ecos que perdia.
Mário de Sá-Carneiro (1890-1916)
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