Nuvens tocadas pelos ventos, ide!
Lá para além de vós, o céu não passa.
Contra as rochas erguidas e paradas,
Desfazei-vos na vossa eterna lide,
Ondas!, flocos de espumas encrespadas...
Que a praia, não há onda que a desfaça.
Desfolhai-vos nas ondas do tufão,
Rosas inda em botão esta manhã,
Folhas aos velhos troncos arrancadas!
Cinzas levais, só cinza!, em vossa mão,
Tempestades futuras e passadas!
Sobre a semente a vossa fúria é vã.
Decorrei, dias meus já sem sentido
Senão o de ficar, que não é vosso.
Dissolveis-vos no ar, mãos revoltadas!
Gestos, formas, visões, sons, pó erguido,
Voltai ao pó das tumbas ignoradas!...
Que não se apaga a luz de além do poço.
Sou, como as nuvens que nada são,
E as ondas frágeis como vãs quimeras,
E as pétalas e as folhas desfolhadas,
E as formas fogos-fátuos da ilusão...
Correi, lágrimas fúteis enganadas!
Mas tu canta, minh' alma!, enquanto esperas.
José Régio, [1901-1969]
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