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sábado, 12 de julho de 2014

Grito calado...



Passado esse longo mês de agonia atarefada, deu-se conta que negligenciara muita coisa, e entre elas o correio, quando deparou com duas cartas por abrir: uma plena de ternura e outra de fétido desprezo
Em nenhuma quis acreditar: ou porque se não reconhecia em nenhuma delas ou porque nem sabia se lhe seriam dirigidas de facto, embora tudo levasse a crer que sim, que o eram, depois de as analisar.
Não chorou. Antes ponderou que nunca tentara iludir ninguém, portanto não deveria também ter desiludido, assim como não pretendera destruir ou destruir-se. Sofrera e amaldiçoaria os dias frios e cinzentos, o trabalho acumulado, a falta de saúde, os serões ensonados... as mil e umas locubrações quotidianas, que não o tinham feito esquecer de nenhuma das suas recordações mais queridas, mas o tinham afastado de tarefas que tornavam mais difícil um eventual contacto com outras vidas que se tinham tornado realidades 
cada vez mais virtuais...  longínquas, despersonalizadas, quase mesmo irracionais.
Procurou não perder o sono ou o equilíbrio emocional e resolveu abrir arquivos de emoções sentidas e tentar de novo falar de si.
Ao falar de si talvez mostrasse como uma preocupação premente se pode calar em nós gritando em surdina.

Manuel Maria

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