Lili, menina farta e caprichosa,
deita fora a boneca já velhinha;
recolhe-a maternal e pressurosa
a Rosa, que é pequena e pobrezinha.
A boneca era feia, pavorosa,
careca, desbotada, aleijadinha;
mas encheu de ventura radiosa
os braços descarnados da Rosinha.
Quer se trate de pão ou de bonecas,
é de fome ou de fartura que tu pecas,
ó mundo de injustiça que apavora!
ó mundo aonde existe o mal sem nome
de haver quem sofra a sede e sinta a fome
dos restos que os felizes deitam fora!
Marta de Mesquita da Câmara ( in «Poesias Completas»)