Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.
Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.
[...]
A adulação repugna os sentimentos finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais, exactos,
Os meus alexandrinos.
[...]
Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se o réclame, a intriga, o anúncio, a blague
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras...
E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!
Cesário Verde - Porto, 18 de Março de 1876
Um poema de outros tempos que se adapta na perfeição ao presente. Cesário Verde um grande poeta, uma excelente escolha.
ResponderEliminarBom fim de semana
Beijinhos
Maria
Muito obrigada, Maria.
ResponderEliminarBom fim de semana.
Beijinho de volta.
maria