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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A arte - intenção e valor


Se a obra de arte proviesse da intenção de fazê-la podia ser produto da vontade. Como não provém, só pode ser, essencialmente, produto do instinto; pois que o instinto e vontade são as únicas duas qualidades que operam.
A obra de arte é, portanto, uma produção do instinto. O drama, sendo primariamente, uma obra de arte, é-o também.

O valor essencial da arte está em ela ser o indício da passagem do homem pelo mundo, o resumo da sua experiência emotiva dele; e, como é pela emoção e pelo pensamento que a emoção provoca que o homem mais realmente vive na terra, a sua verdadeira experiência regista-a ele nos fastos das suas emoções e não na crónica do seu pensamento científico, ou nas histórias dos seus regentes e dos seus donos(?).
Com a ciência buscamos compreender o mundo que habitamos, mas para nos utilizarmos dele: porque o prazer ou ânsia só da compreensão, tendo de ser gerais, levam à metafísica, que é já uma arte.
Deixamos a nossa arte escrita para guia de experiência dos vindouros, o encaminhamento plausível das suas emoções. É a arte, e não a história, que é a mestra da vida.[ escrito talvez em 1925]

Quem escreve para obter o supérfluo, como se escrevesse para obter o necessário, escreve ainda pior do que se para obter apenas o necessário escrevesse.

Porque a arte dá-nos, não a vida com beleza, que, porque é a vida concreta, passa, mas a beleza com vida, que, como é beleza/abstracta, não pode perecer.
A cada conceito da vida cabe não só uma metafísica, mas também uma moral. O que o metafísico não faz porque é falso e o moralista não faz porque é mau o esteta não faz porque é feio.[talvez texto de 1930]

Fernando Pessoa, Páginas sobre doutrina e estética






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