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domingo, 11 de março de 2012

Implicância...

É uma velha engelhada, manhosa...matreira que só visto. E 100% egoísta, amiga das suas comodidades.
Adora sentar o rabo gordo no maple onde passa os dias a cabecear, curvada, a fingir que lê livros de orações ou bichanando ladaínhas de terços cujas contas lhe pendem das mãos sobre a barriga que parece inchada e as vai dedilhando num fingido ar de concentração embevecida.
O cão, de pelo arruivado e olhos rasgados, com mais anos que ela na casa, cobiça-lhe o assento de frente para a lareira e ao lado da televisão - a que ele não liga - mas onde ela adora ver novelas e novelos de que mal percebe as histórias, dados os comentários sem lógica que faz e a que ninguém já responde. 


O cão adora o lume aceso, irresistivelmente atraído pelas chamas e o calorzinho bom... Não a reconhece como um elemento da matilha que lhe seja superior em categoria, nem com mais direitos, e instala-se no maple convenientemente forrado com panos plastificados, não aconteça que exalem cheiros a urina incontrolada que a complexidade de saias amarrotadas conservam e repassam...
E nisso a velha é como o cão: só se lava quando a isso é obrigada.

Nisso e em gostarem de carne e bons petiscos. Muito gulosa, adora doçuras.
Sempre que o cão se apossa do maple fofo, a velha tem de sentar-se nas cadeiras de madeira, apenas cobertas com almofadas fininhas  e manter as costas direitas...já não pode dormir regaladamente com a cabeça e os peitos largos pendentes sobre o regaço avantajado que lhe segura a barriga. 
  Queixa-se de vez em quando de que o cão se lhe antecipa e lhe toma conta do maple onde se instala comodamente para bater uma soneca. E a velha desiste de olhar a novela e desabafa:
 - Já me dói o rabo de estar aqui sentada. Vou-me deitar.
 A filha olha-a sem entender... e admira-se:
- E se não houvesse maple?!...
Não responde. E sai sem o boa noite habitual em direcção à casa de banho donde a seguir sai sem puxar o autoclismo.
 A velha teve por costume, durante muito tempo, de enrodilhar as orelhas ao cão. No início ele queixava-se e fugia. Por fim, tanto o magoou, que ele revoltou-se e mordeu-lhe a mão. Foi desde aí que a velha perdeu o respeito do cão que aprendera a defender-se dela.  Até a filha lhe tem medo.
 Mas o cão é o melhor dos guardas da casa contra intrusos. E sabe ser meigo e obediente quando tratado como se deve.