Hora crepuscular, pálida e triste...
No luxuoso salão, como um desmaio,
O sol, pela janela que entreabriste,
Dizia-nos adeus no último raio.
Ficámos um momento extasiados,
Vendo as glórias do poente moribundo,
E os nossos pensamentos enlaçados
Fugiam na visão de um outro mundo.
Os lábios nem de leve se agitavam,
Comprimindo suspiros inefáveis,
Mas quando os nossos olhos se cruzavam
Faziam confidências adoráveis.
E assim ficámos deliciosamente
Sem escutar, na mística abstracção,
O movimento isócrono e plangente
Dum antigo relógio de salão.
Caía a noite, no silêncio amigo,
Do céu profundo como azul ferrete;
Deram seis horas, e o relógio antigo
Fez ouvir um gracioso minuete.
E aqueles sons um eco despertaram,
Que nos encheu de angústia e de saudade...
- A saudade dos tempos que passaram,
A vaga nostalgia de outra idade...
E nesses largos sonhos impolutos,
Que daríamos nós, Alma insofrida,
Para imobilizar esses minutos
Que nunca se repetem nesta vida?!
António Feijó (1859-1917), in Bailatas
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