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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Na Galileia...


Jesus, quando não sofria ainda aquela áspera melancolia que lhe deu mais tarde a presença de Jerusalém branca e dura, era um meigo rabi que percorria perpetuamente, no infinito enlevo do seu sonho, a sua tranquila e humana Galileia, ora a pé, ora num desses pequenos burros, que têm os olhos tão grandes e tão doces e que vêm da alta Síria. Entrava nas sinagogas; e, comentando os velhos papiros da Lei, ensinava o Deus novo. Parava nos casais, sentava-se às portas, sobre os bancos encanastrados de vime, debaixo dos sicómoros. As mulheres davam-lhe mel, vinho de Safed, e diziam: «fala, rabi, fala!»
As crianças tomavam-lhe as mãos, ou puxando-lhe pelas compridas pontas do seu couffie amarrado por uma corda de pele de camelo queriam ver o fundo dos seus olhos. Os discípulos afastavam as crianças. Mas o Mestre murmurava sorrindo:
 - Deixai vir ter comigo as crianças, abençoadas são elas! elas sabem muitos segredos que os sábios ignoram.

Eça de Queirós, in Uma Campanha Alegre

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