Como nuvem de lágrimas, pairando
Sobre os tectos esguios da cidade,
Vai-se morosamente desdobrando
Um grande véu de sombra e de humidade.
Alteio os olhos para o céu nevoento
E um símil triste, uma impressão me acode,
Trazendo-me à ideia o sofrimento
De alguém que quer chorar - mas que não pode.
A névoa faz-me mal, põe-me doente,
Torna-me os nervos moles, anormais,
E estes sinos dobrando lentamente
Ainda me abatem e entristecem mais.
Sigo, rua fora, a ver se me distraio.
Entro para um café. Jogo o bilhar.
Trazem-me um boque. É detestável. Saio.
E os sinos que não deixam de tocar!
[...]
Augusto Gil (1873 - 1929), Versos
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