hoje, ser é difícil. caminhar não é fácil.
fugir, solução que não convém.
morrer, não vale. lutar, inútil.
resta fingir que estamos bem.
primeiro as mãos perdidas. neve
o teu corpo liquefaz-se.
a esperança é um sorriso breve
que hoje morre e nasce.
dói-me a condenação das mãos caídas,
a largura dos dedos alongados,
a exacta impostura destas vidas,
o peso dos olhos perfurados.
dói-me a ausência de sangue nestas ruas,
o mistério das casas vigiadas,
o vazio sempre igual dos gestos,
a imobilidade das faces mascaradas.
Ruy de Oliveira (1938), Poemas de Hoje
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