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quinta-feira, 23 de maio de 2013

Terra sã...


Mas a terra está sã!
O mar é o grande mar de outrora,
o sol, como no Quaternário, amadurece!
E o sentido de tudo,
mudo,
nem no fundo das noites adormece!

O mundo acorda como no Princípio!
Eternamente casta e delicada,
a luz vai-se despindo do seu véu;
e, nua,
mostra o seu corpo astral da cor da Lua,
e os seus olhos astrais da cor do céu. 

A vida, deslumbrada, vê.
E não há goivo triste,
nem camélia a sorrir,
que não olhe o milagre e lhe não dê
o que restava ainda por abrir.

Depois, o fruto, que concentra em si
a doçura de ser,
liricamente cai.
Mas, no dia que vem,
a eterna terra, a velha terra-mãe,
leveda o fruto e o rebento cai.


Miguel Torga, in Lamentação

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