Vinha caindo a tarde. Era um poente de agosto
A sombra já evitava as moitas. A humidade
Aveludava o musgo. E tanta suavidade
Havia de fazer chorar, nesse sol~posto.
A viração do oceano acariciava o rosto
Como incorpóreas mãos. Fosse mágoa ou saudade,
Tu olhavas, sem ver, os vales e a cidade.
- Foi então que senti sorrir o meu desgosto...
Ao fundo, o mar batia a crista dos escolhos
Depois o céu... e mar e céus azuis, dir-se-ia
Prolongarem a cor ingénua de teus olhos...
A paisagem ficou espiritualizada.
Tinha adquirido uma alma. E uma nova poesia
Desceu do céu, subiu do mar, cantou na estrada...
Manuel Bandeira
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