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domingo, 17 de fevereiro de 2019

Alma ... ânsia de perfeição



[...]
O escrúpulo da precisão, a intensidade do esforço de ser perfeito - longe de serem estímulos para agir, são faculdades íntimas para o abandono. Mais vale sonhar que ser. É tão fácil ver tudo conseguido no sonho!

Mil ideias juntas, cada uma um poema, que cresciam inúteis.  De tantas nem me podia lembrar quando as tinha, quanto mais quando as já perdera.

As pequenas emoções ficaram. Uma brisa num trecho calmo do campo parece que me transe a alma. Uma rajada longínqua da música da filarmónica da alameda evoca-me sonoridades para além dos efeitos de todas as sinfonias. Numa velhinha a uma porta enternece-me a bondade toda. Uma criança suja, parada à minha frente, ilumina-me. Gozo o pousar de um pardal no cabo, e isto passa de mim, como uma visão indestrinçável da própria verdade.

Fernando Pessoa,  in A Educação do Estóico Barão de Teive

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