Leio num asno: este pintor possui
a convicção profunda de que a natureza
comunga na dor humana. Não sei
o que Girard David pensava:
apenas sei o que ele pintou. Se o quadro
Girard David ( c. 1460-1523)
retrata a natureza como um sentimento
ou usa a natureza como um doce véu
atento ao que se passa no proscénio dela,
não sei se isso é profundo ou convicção,
se é do pintor, do tema, ou sucedeu
porque as formas doloridas governaram
o quadro inteiro. Tudo o mais é prosa e má
sobre pinturas belas. Um verniz
Santo António de Pádua- Girard David (c. 1460.1523)
daquela estupidez que vulgariza as coisas
que os homens fizeram para serem menos
- as coisas - que a vaidade humana de
elas e eles significarem.
[Paris, 28/01/1973]
Jorge de Sena, in 40 anos de servidão
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