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terça-feira, 14 de julho de 2009

Fim de aulas por Alberto Gonçalves, Sociólogo

Fim de aulas

As provas de avaliação sempre suscitaram a repulsa dos "pedagogos" modernos. O argumento era o de que semelhantes testes não reflectem o que os alunos realment sabem. Os exames nacionais aplicados pelo corrente Ministério da Educação demonstram que os pedagogos "modernos" tinham razão: as notas aproximam-se da excelência e os alunos não sabem nada.
Isto sucede porque a cada ano os exames se vão adequando ao QI de Forrest Gamp. Por enquanto, a subida nas respectivas médias só eleva as crianças indígenas a lugares honrosos nas tabelas comparativas internacionais. Mas quando o exame de Matemática do 12º se resumir a pintar com guache o algarismo "8", não duvido que o topo das tabelas será nosso. Parece bom? Se calhar, é bom. É certo que, aqui ou ali, duas dúzias de líricos protestam as quebras nos padrões de exigências e avisam que o Estado está a fabricar idiotas. E depois? Não compete ao Estado democrático formar génios: compete-lhe, como prometia a Declaração de Independência americana, criar condições para a felicidade das pessoas. E as pessoas, pelo menos no que toca a ensino, estão felizes.
O ministério congratula-se com o brilharete estatístico. As crianças também andam contentes e, embora exibam dificuldades em se exprimir numa língua existente, surgem nos "telejornais" a considerar "bué de fácil" os testes de Português. E a Confap, uma coisa que diz confederar as associações de pais, aplaude, ressalvando que os exames ainda são um nadinha exigentes e que, em vez de se ocupar com trivialidades, a escola tem de investir na "componente de apoio à família", leia-se armazenar por tempo indefinido os meninos que os progenitores não aturam.
A experiência própria, junto dos pais (não confederados) que conheço, confirma a tendência. Com excepções, a maioria aceita com jovialidade que, no final da "primária" (ignoro a designação actual), a descendência não consiga identificar o País num mapa ou demore meia hora a ler um rótulo de Nestum. Suponho que, no final do "secundário", a descontracção face a estes ligeiros óbices permaneça igual. A única função que a generalidade dos pais exige à escola é a de ama-seca, capaz de lhes devolver os petizes ao fim do dia em perfeita saúde e, o que não custa, com um boletim escolar limpo de reprovações, castigos e demais maçadas. O pormenor de os cérebros dos petizes continuarem limpos de instrução não perturba milhões de envolvidos.
E porque deverá perturbar um punhado de observadores distantes? Numa perspectiva racional, de facto não há motivo para que a escola preste serviços não requisitados pela sociedade em que se insere. Se quase ninguém o deseja, o ensino tradicional perdeu a razão de ser, e por isso até estranhei ver o eng. Sócrates, na entrevista à SIC, todo orgulhoso por oferecer às crianças "competências informáticas" e fluência em Inglês. Logo a seguir, porém, lembrei-me que a informática corresponde aos joguinhos do Magalhães e que o Inglês é provavelmente técnico. A notável carreira do eng. Sócrates mostra que não é preciso muito mais.

Alberto Gonçalves, in Juízo Final [rev. Sábado - 25/06/2009]

N.B.: O boldo e o itálico são da responsabilidade do autor do blogue.

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