Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.
[...]
Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.
[...]
(As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que não sonhei!...)
E sinto que a minha morte -
Minha dispersão total -
Existe lá longe, ao norte,
Numa grande capital.
[....]
Perdi a morte e a vida,
E, louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida.
Eu sigo-a, mas permaneço...
Excertos de Dispersão, poema de Mário de Sá-Carneiro. Paris, Maio-1913
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