Anho do sacrifício
Que o ritual impõe,
É um balido discreto que lhe pedem
Homens e deuses, feras fraternais:
Que o perfume
Dum lírico queixume
Enterneça os fiéis sentimentais.
Mas o cordeiro agónico protesta.
E a paz familiar da festa
É perturbada.
Sem qualquer conivência,
A violência
Tem de ser friamente consumada.
Junta-se então,
No altar da imolação,
A pura crueldade
À impura liturgia.
E o sangue do poeta assassinado,
A correr como um verso derramado,
É um hino rubro à eterna rebeldia.
Miguel Torga, in «Câmara Ardente», 1962
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