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sábado, 2 de março de 2019

II - Tu não és...

Introdução:

Ler poetas, apreciar quadros ou outros aspectos de arte traz grandes surpresas ou belas experiências. 
A leitura de Bernardo Soares trouxe-me a compreensão da estranha vida do autor Pessoa, absolutamente invadida pela procura incessante do artista na busca da perfeição, e do escalpelo que utilizou em si-mesmo para compreender racionalmente emoções sentidas. 
A razão de me servir de alguns destes textos, foi tentativa de consciencializar outrem para a emoção por mim sentida ao descobri-los e descodificá-los, mas sem lhes apor filosofias complexas ou doutrinas linguísticas estranhas. 
Porque Pessoa só aparentemente é simples, mas também não é tão complicado quanto muitos o quiseram , ou querem, fazer parecer. 


[...]
« Lua de memórias perdidas sobre a negra paisagem, nítida de vazio[?], da minha imperfeição compreendendo-se. O meu ser sente-se vazante como se fosse um cinto teu que te sentisse. Debruço-me sobre o teu rosto branco nas águas nocturnas do meu desassossego, no meu saber que és lua no meu céu para que o causes, ou estranha lua submarina para que, não sei como, o finjas.
Quem pudesse criar o Novo Olhar com que te visse, os Novos Pensamentos e Sentimentos que houvessem de te poder pensar e sentir! 
Ao querer tocar no teu manto as minhas expressões cansam o esforço estendido dos gestos de suas mãos, e um cansaço rígido e doloroso gela-se nas minhas palavras. Por isso, curva um voo de ave que parece que se aproxima e nunca chega, em torno ao que eu quereria dizer de ti, mas a matéria das minhas frases não sabe imitar a substância ou do som dos teus passos, ou do rasto dos teus olhares, ou da cor triste e vazia da curva dos gestos que não fizeste nunca.»

*

Bernardo Soares, in Livro do Desassossego

[...]

Comentando:
Raramente há uma mulher real na obra de um artista, mas muitas, ou a sucessão de muitas, que se plasmam numa única quando a/as evoca. No caso de Pessoa, poeta lúcido e profundamente sensível, a mulher podia ser a prefiguração da beleza ...o que era tudo e era nada. Mas era sempre tudo no universo lírico do artista e nada como representação carnal, a não ser em traços eróticos, como surge em alguns dos seus sonetos.

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