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quarta-feira, 5 de junho de 2019

O balouço, de Fragonard

O baloiço - Fragonard

Como balouça pelos ares no espaço 
entre arvoredo que tremula e saias 
que lânguidas esvoaçam indiscretas!
Que pernas se entrevêem, e que mais
não vê o que indiscreto se reclina 
no gozo de escondido se mostrar!
 Que olhar e que sapato pelos ares, 
na luz difusa como névoa ardente
do palpitar de entranhas na folhagem! 
Como um jardim se emprenha de volúpia, 
torcendo-se nos ramos e nos gestos,
nos dedos que se afilam, e nas sombras!
 Que roupas se demoram e constrangem 
o sexo e os seios que avolumam presos,
e adivinhados na malícia tensa! 
Que estátuas e que muros se balouçam 
nessa vertigem de que as cordas são 
tão córnea a graça de um feliz marido! 

La fête galante - pintura rocócó

Como balouça, como adeja, como 
é galanteio o gesto com que, obsceno, 
o amante se deleita olhando apenas!
Como ele a despe e como ela resiste 
no olhar que pousa enviesado e arguto
sabendo quantas rendas a rasgar! 
Como do mundo nada importa mais!

Jorge de Sena, in Poemas Escolhidos (1963)


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