Como uma flor incerta...
I
Como uma flor incerta entre os teus dedos
Há a harmonia dum bailar sem fim,
E tens o Silêncio indizível dum jardim
Invadido de luar e de segredos.
II
Nas tuas mãos trazias o meu mundo.
Para mim dos teus gestos escorriam
Estrelas infinitas, mar sem fundo
E nos teus olhos os mitos principiam.
Em ti eu conheci jardins distantes
E disseste-me a vida dos rochedos
E juntos penetrámos nos segredos
Das vozes dos silêncios dos instantes.
III
Os teus olhos escorrem como fontes,
E em todo o teu ser existe
O sonho grave, nítido e triste
Duma paisagem de pinhais e montes.
Na tua voz as paisagens são nocturnas
E todas as coisas graves, grandes, taciturnas
A ti são semelhantes.
Sophia de Mello [Dia do Mar]
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