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terça-feira, 25 de maio de 2010

Quando a tristeza não sabe chorar



À memória de Adriano Pires


Hoje há alguém que está comigo
Porque a barreira da morte o libertou.
Percorrerá a meu lado
E sempre
Os caminhos do sonho e da verdade
E libertará a luz dentro de si
Desvelando-se na ternura alvinitente
Que adormece a dor, no macerar
Triste
Da alma lassa, dolente...

Vou evocá-lo ao contemplar o mar
Que tanto amava
Ou ao sentir a força do vento
Roçando bravo
Por sobre a ria que adorava
Escutando as canções da apanha do moliço
Ou olhando as proas altaneiras dos batéis
Reflectidas nas águas sujas da maré vazia -
- Inclinado sobre as águas onde o verei
A pescar sonhos com cheiro a maresia...

E vê-lo-ei a olhar o longe, sempre mais longe,
Com aquele espanto de quem não pode nunca
Conceber partir numa aventura
Porque sabe ser pura loucura
Deixar o mundo da infância e as raízes
Profundas e ternas do lar, da paisagem,
Da mulher amada e dos rebentos felizes...

Ó meu amigo, com nome de filósofo,
A quem polia levemente os versos,
A quem perscrutava o sentir
No vai-vém das sensíveis rimas -
- Desabafos poéticos de uma vida...
Vida de amor à mãe, à terra, à mulher querida
E aos amigos que sempre fez por merecer,

Não te digo adeus, não, porque a partida
Nada representa para quem soube, como tu, viver.

Hoje o dia foi triste. Amanhã...
,...amanhã chorarei.
Esta dor, em choro desatada,
Será lembrança lenta
Perene e condenada,
Recolhida num cofre que criei.

[23/24 de maio de 2010]







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