Corre, raio de rio, e leva ao mar
A minha indiferença subjectiva!
Qual "leva ao mar"! Tua presença esquiva
Que tem comigo e com o meu pensar?
Lesma de sorte! Vivo a cavalgar
A sombra de um jumento. A vida viva
Vive a dar nomes ao que não se ativa,
Morre a pôr etiquetas ao grande ar...
Arte com sucata
Escancarado Furness*, mais três dias
Te aturarei, pobre engenheiro preso
A sucessibilíssimas vistorias...
E. Munch - Auto-retrato com cigarro aceso
Depois, ir-me-ei embora, eu e o desprezo
(E tu irás do mesmo modo que ias),
Qualquer, na gare, de cigarro aceso...
Soneto III in Barrow-on- Furness, última parte de " Ficções do Interlúdio"- Poemas de Álvaro de Campos,
heterónimo de F. Pessoa
Furness* - Barrow-on-Furness, hoje cidade situada a norte de Inglaterra. Era uma aldeia pertencente ao condado de Cúmbria onde se desenvolvia então a indústria da construção de navios e onde, supostamente, o engenheiro naval Álvaro de Campos trabalharia.
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