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quinta-feira, 2 de novembro de 2017

«Chove?»...


Chove? Nenhuma chuva cai...
Então onde é que eu sinto um dia 
Em que o ruído da chuva atrai
A minha inútil agonia?


Onde é que chove que eu o ouço?
Onde é que é triste, ó claro céu?
Eu quero sorrir-te, e não posso,
 Ó céu azul, chamar-te meu...

E o escuro ruído da chuva 
É constante em meu pensamento.
Meu ser é a invisível curva
Traçada pelo som do vento...

Foto Rick Forrestal

E eis que ante o sol e o azul do dia,
Como se a hora me estorvasse,
Eu sofro... e a luz e a sua alegria
Cai aos meus pés como um disfarce.

Ah, na minha alma sempre chove.
Há sempre escuro dentro de mim.
Se escuto, alguém dentro de mim ouve
A chuva, como a voz de um fim...

Quando é que eu serei da tua cor,
Do teu plácido e azul encanto,
Ó claro dia exterior, 
Ó céu mais útil que o meu pranto?

Fernando Pessoa, in Cancioneiro

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