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segunda-feira, 29 de junho de 2009

Melodia vaga - o ocaso


Ontem, um amigo enviou-me algo de extraordinário: a preensão videográfica de momentos maravilhosos do ocaso do Sol no horizonte esbraseado, no mar, no pinhal, na montanha. E sentia--se, com a belíssima música de fundo, como pode ser algo de tão sereno belamente esculpido nas formas da natureza, ou por elas, coado pelas nuvens esparsas pelo céu, deixando laivos sanguinolentos ou róseos nas águas paradas que os espelham. Só uma natureza requintada de poeta pode compreender a grandeza de certos momentos e reinterpretá-los. No fim, como remate, um belíssimo poema que falava... sei já lá eu bem de quê?... da vida, do sentir, do amor, da dor, de tudo que é nada perante o mistério do existir.
Sem querer, hoje os olhos da alma cairam-me num poema de Sebastião da Gama sobre o mesmo tema. E aqui fica a sensibilidade deste poeta português a quem foi ceifada a vida em plena juventude - tinha 28 anos - e anda tão esquecido nos livros dos nossos jovens e crianças por demasiado "démodé".


Melodia Vaga

Voz do Crepúsculo, suave,
de onde me chamas?

Bates-me à porta, levezinho...
( Feita de Cor que se enternece?
Feita de flébeis meigas brisas?)

Se desço as pálpebras, melhor
percebo o vago apelo teu
(...que vem da Terra?
...que vem do Céu?)
Oiço que chamas, fecho os olhos.
Chamas e como que me sinto
em brandas sedas embalado.
Não sei p'ra onde vou levado
nem de onde chamas...
Será a Morte?

Se fosse a Morte,
que linda morte ela me dava!...
Baixava as pálpebras, sorria...
Deixava as sedas afagarem
meu corpo jovem...
E assim, sem lágrimas, sem velas,
e sem caixão, sem flores, sem cruz,
só eu sabia que morria,
mas vagamente, meigamente,
qual uma seda a destingir-se
ou uma síncope da Luz...

Sebastião da Gama, Cabo da Boa Esperança

Não seria este o poema que seria entendido sem ajuda na sua interpretação. Mas como
ajudaria um jovem a entender a morte como um todo de que precisamente
ele também faz parte.



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