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sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Um soneto de Pessoa...



Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanta a mania de sentir
Que me extravio às vezes a sair
Das próprias sensações que eu recebo.


 O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu medo de existir,
E eu nunca sei como hei-de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.




Nem nunca propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu 
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?


Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente. 


Fernando Pessoa, in Ficções do Interlúdio

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