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quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

A estrada incompreendida


Foi um momento
O em que pousaste
Sobre o meu braço,
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão
E a retiraste.
Senti ou não? 
Não sei. Mas lembro
E sinto ainda
Qualquer memória
Fixa e corpórea
Onde pousaste 
A mão que teve
Qualquer sentido 
Incompreendido, 
Mas tão de leve!...
Tudo isto é nada,
Mas numa estrada
Como é a vida
Há muita coisa
Incompreendida...
Sei eu que quando 
A tua mão 
Senti pousando
Sobre o meu braço,
E um pouco, um pouco,
No coração,
Não houve um ritmo
Novo no espaço?
Como se tu, 
Sem o querer, 
Em mim tocasses
Para dizer 
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo,
Que nem soubesses 
Que tinha ser.
Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa 
Coisa feliz.

Fernando Pessoa, in Cancioneiro-[09.05.1934]

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