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sábado, 18 de julho de 2009

Drama - dos pequenos (continuação)



Aquelas palavras magoavam-na. Doía qualquer coisa bem lá no fundo quando pousava de novo os olhos naquelas letras negras de imprensa que tanto a humilhavam. Desejava sumir-se pelo chão abaixo, transformar-se em mosquito que fosse capaz de ferrar a mão cruel que mandara imprimir aquelas palavras, mesmo que depois morresse como as abelhas, logo ali, por ter ferrado. Mas nada podia fazer para se vingar de quem lhe vibrara tão cruamente aquele golpe e apertou as mãos em desespero. Então as lágrimas começaram a rolar pelas faces, amargas, geladas. Só que não sentia que arrastassem consigo tanta amargura e precisava de fazer alguma coisa... como gritar, para tentar expulsar o peso que parecia sufocá-la.
Num repente, levantou-se e, num movimento de raiva, de impotência, amarfanhou a revista que lançou para um canto e atirou-se sobre a cama, agarrando desesperadamente a almofada onde tentou reprimir os soluços e os gritos que se lhe atravessavam na garganta contraída, num espasmo dificilmente contido.
De vez em quando fugia-lhe um queixume que logo era desesperadamente sufocado. E perdida a noção do tempo, quebrantada pelo próprio desespero, acabou por adormecer no estancar das últimas lágrimas.

(Continua)

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