A mãe, desconfiando da ausência, abriu a porta devagar e olhou admirada o vulto da filha sobre a cama. Pensou se não estaria doente porque não eram horas decentes para se dormir e aquela criatura nunca dormia. Cautelosa, aproximou-se mais, espreitou-lhe o rosto e viu lágrimas. Não lhe batera nesse dia, não a repreendera... Suspeitou de um desgosto e recordou que a notara impaciente porque o homenzinho dos jornais nunca mais chegava. Tinha-a ouvido protestar que o pobre homem levava tempo demais a fazer o troco aos fregueses, de óculos ridiculamente acavalados no nariz, sacola de pano cinzento presa ao ombro, desculpando-se que o combóio era ronceiro, nunca mais chegava... Via-se que estava impaciente para que ele acabasse a conversa e desandasse. Lembrava-se a mãe de ouvir-lhe recriminações porque a revista nunca mais chegava e, já de posse dela, fugira para o quarto... E estranhou de novo os vestígios das lágrimas e o sono àquela hora desapropriada. Antes de sair reparou na revista amarfanhada a um canto. E acabou por concluir que não devia ser nada de cuidado.
Num repente de boa vontade - não a acordou.
(Continua)
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